Organismos bentônicos são aqueles que vivem no substrato de fundo de ecossistemas aquáticos (rios, lagos, oceanos, etc.), ao menos, durante parte de seu ciclo de vida. Este substrato pode ser formado por sedimento, pedaços de madeira, folhas, algas, rochas, etc. Os macroinvertebrados bentônicos, ou simplesmente zoobentos, são os animais que ficam retidos em redes com malha de 200 a 500 mm. Macroinvertebrados bentônicos são sedentários, não podendo evitar, rapidamente, mudanças ambientais prejudiciais e exibem variados graus de tolerância à poluição (Metcalfe, 1989). Por essas razões eles tem sido amplamente utilizados como bioindicadores de qualidade da água, do nível de poluição e/ou alteração de um ambiente aquático (Goodnight, 1973; Resh & Unzicker, 1975; Benoit et al., 1996; Boxall & Maltby, 1997; Anubha & Dalela, 1997; Martins-Silva & Rocha, no prelo).
Devido a algumas características intrínsecas à biota, a utilização da comunidade aquática em estudos ecológicos oferece vantagens importantes sobre as medições químicas, tais como exposição prolongada a todas as variações de parâmetros ambientais, fornecendo, portanto, uma resposta integrada. Os dados químicos são eficientes, mas são dados instantâneos, requerendo um grande número de medições para se obter uma representação fiel, enquanto que a biota apresenta diferentes sensibilidades e taxas de recuperação (dependendo das espécie e dos ciclos de vida) além da capacidade de concentrar e armazenar substâncias em seus tecidos (muitas vezes tais substâncias não são detectadas no ambiente por meios químicos).
O conceito de espécies indicadoras é de central importância no uso de macroinvertebrados bentônicos no monitoramento biológico (Johnson et al., 1993). Espécies indicadoras são aqui definidas como sendo a espécie, ou assembléia de espécies, que tem necessidades físicas e químicas ambientais particulares. Alterações na presença ou ausência, na fisiologia, na morfologia, na abundância ou no comportamento dessas espécies indicam que variáveis químicas e físicas estão fora dos limites toleráveis. O fator ou fatores que regulam a abundância populacional ou a presença/ausência podem agir em qualquer estágio do ciclo de vida, e podem ser de origem abiótica (e.g. variáveis químicas: O2 ,concentração de metais; variáveis físicas : sedimentação) ou biótica ( e.g. competição, parasitismo, etc.).
Preferencialmente organismos indicadores são aquelas espécies que têm tolerâncias ambientais específicas. O principal motivo para o uso de organismos indicadores de qualidade da água é que a presença do indicador funciona como uma reflexão do ambiente em que se encontra. A presença de uma grande quantidade de organismos indicadores significa que suas necessidades físicas, químicas e nutricionais foram encontradas.
Entretanto, se os fatores ambientais limitantes das espécies são conhecidos, a presença de organismos irá indicar condições ambientais específicas. Ao contrário, organismos que possuem amplas tolerâncias para diferentes condições ambientais e cujo padrão de distribuição ou abundância são levemente afetados por variações substanciais da qualidade ambiental, são fracos indicadores.
A presença de uma espécie nos assegura de que certas condições mínimas foram encontradas para sua sobrevivência. Por outro lado a ausência de uma espécie não necessariamente significa que os fatores limitantes não foram encontrados. A ausência de um Táxon também pode ser resultante de uma barreira geográfica, ocupação de seu nicho funcional (e.g. exclusão competitiva por outra espécie) ou eventos normais do ciclo de vida (e.g. predação intensa, altas taxas de parasitismo).
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Segundo Rosenberg & Wiens (1976) e Hellawell (1986), os organismos indicadores ideais deveriam ter as seguintes características :
1. Reconhecimento fácil por não especialistas.
2. Distribuição cosmopolita para facilitar as comparações regionais e internacionais.
3. Grande quantidade de organismos.
4. Indivíduos de diversos taxa (= grupos taxonômicos) possuindo, assim, organismos com diferentes reações de sensibilidade a mudanças ambientais.
5. Organismos relativamente grandes e de fácil amostragem, com os quais as técnicas empregadas são diversas e de custo baixo.
6. Pouca mobilidade, representando, por isso, as condições locais.
7. Ciclos de vida longos (semanas, meses ou anos), o que permite a detecção de qualquer alteração em tempo hábil e a promoção de um testemunho da qualidade do ambiente no passado e no presente.
8. Características ecológicas bem conhecidas.
9. Organismos que possam ser utilizados em experimentos de laboratório.
10. Grande sensibilidade ou resistência a mudanças ambientais.
Outros tipos de organismos indicadores são chamados bioacumulativos (= sentinelas), que são os macroinvertebrados bentônicos que acumulam poluentes provenientes do ambiente circundante e/ou de sua alimentação, nos seus tecidos. A análise desses tecidos permite uma estimativa das concentrações ambientais dos poluentes.
Sendo assim, podemos dizer que a comunidade de macroinvertebrados bentônicos é composta por diversos organismos que podem ser utilizados como indicadores biológicos, já que possuem uma série de características (como listadas acima) que os tornam forte instrumento para a detecção de alterações ambientais (Navas-Pereira & Henrique, 1996).
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