sábado, 2 de julho de 2011

Bioindicadores - parte 1


A comunidade de macroinvertebrados bentônicos de água doce é composta por organismos com tamanho superior a 0,5 mm, portanto, visíveis a olho nu (PÉREZ, 1996). Os organismos bentônicos possuem grande diversidade de espécie, diversas formas e modos de vida, podendo habitar fundos de corredeiras, riachos, rios, lagos e represas (SILVEIRA et al, 2004). Em geral se situam numa posição intermediária na cadeia alimentar, tendo como principal alimentação algas e microorganismos, sendo os peixes e outros vertebrados seus principais predadores (SILVEIRA, 2004).
Os macroinvertebrados bentônicos desempenham importante papel na dinâmica de nutrientes transformando matéria orgânica em energia (CALLISTO & ESTEVES apud MARQUES et al, 1999). O biorrevolvimento da superfície do sedimento e a fragmentação do litter proveniente da vegetação ripária são exemplos de processos de liberação de nutrientes para a água, realizados por esses organismos (DEVÁI, 1990), dentre os quais destacamos os insetos que são aquáticos, ou que tem parte da sua vida neste ambiente, sendo que em ambos os casos a grande maioria das formas jovens destes organismos é bentônica. (ESTEVES, 1988).
A qualidade do habitat é um dos fatores mais importantes no sucesso e estabelecimento das comunidades biológicas em ambientes lênticos ou lóticos
(MARQUES et al, 1996). Os limnólogos geralmente relacionam a estrutura da comunidade de insetos e outros invertebrados com variações nas características ambientais dos rios. Tais análises são usadas para gerar e testar hipóteses sobre os possíveis fatores que influenciam a estrutura da comunidade de rios, e também modelar as respostas da biota às mudanças naturais e antrópicas no ambiente (SILVEIRA, 2004).
A utilização de técnicas de biomonitoramento de corpos hídricos, através de macroinvertebrados bentônicos, vem sendo cada vez mais empregada e aceita como uma importante ferramenta na avaliação da qualidade da água. Apesar de ser utilizada na Europa e na América do Norte desde o início do século XX, no Brasil tem apenas poucas décadas (SILVEIRA, 2004).
No final da década de 1960, a maioria dos países da Europa passou a utilizar metodologias de avaliação com índices bióticos de macroinvertebrados bentônicos 13 que consistiam em atribuir um valor (score), para cada espécie com base em sua tolerância ao impacto, desde então diversos índices surgiram e foram testados, ganhando destaque o BMWP (Biological Monitoring Working Party score system) (BUSS et al., 2003).
O índice BMWP’ foi adaptado por LOYOLA (2000) para os rios do Estado do Paraná a partir de dados levantados em projeto de monitoramento da qualidade da água de afluentes da margem esquerda do reservatório da Itaipu, pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), incluindo 12 famílias, umas por equivalência ecológica e outras por semelhança quanto ao nível de tolerância à poluição. Desde a década de 1970, pesquisadores e gestores de recursos hídricos da Europa Ocidental e América do Norte defendem a necessidade de aplicar análises integradas às metodologias tradicionais na classificação de qualidade de águas, visto que, se as medições químicas forem feitas longe da fonte poluente, não serão capazes de detectar perturbações sutis sobre o ecossistema (BUSS, 2006).
Enquanto as análises de parâmetros físico-químicos refletem apenas o momento da coleta, os biológicos representam uma somatória de fatores ambientais presentes e passados (LOYOLA, 1994). Segundo Shimizu & Kulmann apud Bicudo (2004) os invertebrados bentônicos constam entre os organismos mais utilizados nas avaliações de impactos antrópicos sobre ecossistemas aquáticos. A preferência da utilização destes organismos como bioindicadores por parte dos pesquisadores se dá devido ao seu tamanho (visíveis a olho nu), simplicidade para as coletas, não requerem equipamentos onerosos e apresentam ciclo de desenvolvimento longo o suficiente para detectar qualquer alteração (ALBA-TERCEDOR, 1996).

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